17 de dezembro de 2010

Uma entrevista sobre o consumo de vitaminas

Fui convidada pela jornalista Isabel Vasconcellos para uma entrevista no seu charmoso "estúdio" à beira da Avenida Paulista. A entrevista dura cerca de 20 minutos e remete-se a algumas das dúvidas mais frequentes sobre o tema.
O vídeo original está em http://www.isabelvasconcellos.com.br/So%20Saude.htm






15 de dezembro de 2010

Problemas comuns do sono

Embora os idosos de um modo geral tenham menor necessidade de horas de sono, conforme já comentado, fica clara a importância de dormir bem em qualquer idade. Muita gente dorme mal e pensa que isso “é assim mesmo”, que são “problemas da idade” e por isso não procuram ajuda.
Dentre os problemas de sono mais comuns que afetam os idosos, citamos os mais freqüentes:

Insônia: é a dificuldade de iniciar ou manter o sono. Pode ser do tipo “inicial” (problema maior no começo da noite), “intermediária” se há dificuldade em manter o sono (p problema é maior pela madrugada) e “final” se o indivíduo desperta cedo demais (problema ao amanhecer). A insônia é considerada crônica se já existe há mais de 3 semanas.
Síndrome da apnéia obstrutiva do sono: é caracterizada por freqüentes “paradas respiratórias” por mais de dez segundos durante o sono, causadas pela obstrução ao fluxo de ar pelas vias áreas. Em geral, a síndrome está acompanhada pelos roncos que são os sons vibratórios que ocorrem à passagem do ar nessas vias parcialmente fechadas.
Síndrome das pernas inquietas: é um distúrbio caracterizado por sensações desagradáveis (dor, incômodo, “puxões”, “picadas”, queimação...) que levam a movimentos involuntários freqüentes das pernas quando se deita ou se está descansando, ao ponto de atrapalhar significativamente a qualidade do sono. Esses sintomas podem ocorrer ainda em situações de repouso, no fim do dia, ao assistir à TV, por exemplo, ou em outras situações em que se tenta relaxar.

7 de dezembro de 2010

A importância de dormir bem





Passamos boa parte da vida dormindo, cerca de um terço dela. Dormir bem é necessário para se ter uma boa qualidade de vida. Inúmeros estudos o comprovam.
O sono de má qualidade está relacionado a problemas de memória, fadiga, dores, baixo rendimento no trabalho, maior risco de transtornos psiquiátricos como depressão e ansiedade ou de doenças como hipertensão arterial, diabetes, infarto, acidente vascular encefálico, maior risco de acidentes entre outros problemas.
O sono não é um “desligamento” do estado de vigília. É um estado de intensa atividade cerebral e de reparação dos nossos músculos, ossos, do sistema imune; consolidação da memória, liberação de hormônios e muitas outras funções essenciais para o organismo.
Estima-se que mais de 12% da população apresenta distúrbios do sono. Entre os idosos, cerca de 90% deles, quando diretamente questionados, apresentam alguma queixa ou insatisfação específica.
Com o envelhecimento, surgem algumas alterações no ciclo normal do sono: diminuição do tempo total de sono, demora para iniciá-lo, aumento das fases superficiais e conseqüente diminuição do sono profundo e mais reparador, aumento de despertares resultando em menor eficiência global.
Além das alterações próprias do envelhecimento, outros fatores podem afetar negativamente o sono dos idosos: dores, ambiente inadequado para o repouso, desconfortos emocionais, uso de múltiplos medicamentos, doenças como refluxo gastro-esofágico ou problemas respiratórios e cardíacos.
sleep_lab2Os diagnósticos e tratamentos dos distúrbios do sono podem ser feitos por meio da história clínica e algumas vezes requerem exames gerais ou específicos, como o estudo de polissonografia, em que o paciente passa uma noite no laboratório para análise de cada componente do sono. 

Dormir com qualidade é essencial para se ter uma boa saúde física e mental. É preciso conversar com o geriatra também sobre esse aspecto. Muitos desses distúrbios, quando bem controlados, trazem significativa melhora na qualidade de vida.

23 de novembro de 2010

5 minutos que valem uma longa vida




Como médica geriatra e cidadã, chama-me muita atenção pelas ruas de São Paulo, o número de idosos, acompanhados ou sozinhos, ágeis ou até com sérias dificuldades de locomoção, que atravessam as ruas da cidade – que tem um dos tráfegos mais agressivos do mundo – fora da faixa de pedestres ou na faixa, mas em momentos inadequados. Flagro esse tipo de comportamento quase diariamente.
Fazendo um levantamento pelo site do DataSUS, só na cidade de São Paulo, de janeiro a setembro de 2010, houve mais de 800 internações hospitalares de pessoas maiores de 50 anos e 106 mortes nessa faixa etária, por atropelamento. Durante todo o ano de 2009 foram quase 1000 internações e 119 mortes. Levando em conta que esses dados só se referem aos piores desfechos, é incalculável, entretanto, o tamanho do problema, um problema de maus hábitos da nossa cultura.
O que significa de fato aguardar 5 minutos até que o farol seja favorável à travessia? Não podemos esquecer, que dado o fluxo de veículos na cidade, os semáforos para pedestres freqüentemente mantém-se aberto durante um tempo insuficiente para a travessia de uma pessoa com dificuldades de locomoção. Portanto, nesses casos, a travessia deve ser feita em duas etapas, normalmente aguardando na ilhas centrais das grandes avenidas, por exemplo. Mulher segura mão de idoso e o conduz sobre a faixa de pedestres
Sugiro que, independentemente da idade, todos tenhamos a responsabilidade e nos eduquemos em primeiro lugar, a fazer travessias seguras. Hoje muitas pessoas chegam à terceira idade em excelente estado de saúde ou em estado bastante bom. Vemos, no entanto, que um número nada desprezível de idosos sofrem, já na maturidade, algum tipo de acidente que transforma totalmente essa história vitoriosa de saúde.
A maioria dos acidentes, como bem sabemos, é evitável. As quedas da própria altura são, entre as causa externas, as que mais levam a lesões permanentes entre os idosos. Esse assunto ficará para outro artigo, mas hoje, só queria ressaltar o papel de cada cidadão na educação no trânsito, um grande tema de saúde pública que afeta a todas as idades.

20 de novembro de 2010

Um sonho realizado aos 75 anos

Therezinha nasceu em Pirajuí, nos idos anos de 1935. É a 13ª de 14 filhos de uma família que tinha poucos recursos econômicos.
No interior e depois em São Paulo-capital, Therezinha trabalhou em muitas firmas: foi bilheteira de cinema, secretária, balconista, operária em fábricas e metalúrgica. Depois deixou de trabalhar fora de casa para cuidar de sua mãe, doente, visto que a família não possuía meios de pagar uma cuidadora.
Embora não tenha nem completado o primeiro grau nos estudos, aos 35 anos, sem saber tocar nenhum instrumento musical, começou a compor. Tinha boa voz e passou a criar suas próprias melodias que cantarolava enquanto trabalhava. Therezinha compôs dezenas de músicas, que só ganharam gravações caseiras de alguns amigos. Primeiro vinha a melodia na cabeça, depois as letras eram postas como uma arte de amor. Para não esquecer nenhuma de suas criações, em um Natal, Therezinha ganhou um gravador de fitas cassetes, que hoje guardam a memória de seus pescadores, de suas meninas, de seus cantos natalinos.
Aos 55 anos, já uma senhora autodidata, aventurou-se a escrever contos infantis. Tem outras dezenas deles. São criativos, inéditos, com lições divertidas às crianças de hoje que, apesar da Internet, apesar dos games, apesar da TV HD, continuam sendo crianças que necessitam aprender dos personagens míticos.
Quero registrar minha admiração e meu tributo, a essa senhora que aos 75 anos conseguiu realizar um sonho longamente acalentado: publicou pela primeira vez um livro com alguns dos seus contos. Mas o sonho não veio fácil: Therezinha tem um tino pelo comércio invejável. Agora, ela que sempre fez propaganda dos outros, está aprendendo a fazer a própria propaganda para vender pessoalmente a maioria dos seus livros.
Lá a vejo, com seus passos cuidadosos pelas calçadas da metrópole, visitando seus muitos e muitos conhecidos. Lá vai Therezinha, ensinando que um sonho se constrói a cada dia da vida, seja longa seja curta. Lá vai Therezinha, ensinando que o sonho não é quimera, é meta que nos mantém jovens.
Quem desejar conhecer os contos de Therezinha, ligar para (11) 3171-2198

19 de novembro de 2010

O idoso tem função social?

Um sinal de pobreza ética de uma sociedade é o menosprezo de seus concidadãos debilitados. Como não nos lembrarmos da eugenia nazista que pregava a eutanásia dos doentes mentais, dos velhos improdutivos ou da esterilização dos "não puros"?
Propaganda nazista: o custo dos cuidados de um doente congênito ao longo de sua vida, para o "povo novo" do Reich

Propaganda nazista: um jovem trabalhador sob o peso de pessoas "improdutivas" que geram muitos custos até completarem 60 anos de idade

E nos nossos dias, na nossa sociedade, ainda que os idosos agora estejam por todas as partes, cabe-nos um grande desafio, para todas as idades: compreender melhor a função social que as pessoas idosas são chamadas a exercer.
O que fazia Hitler e qualquer tirano? Convencer a população de que o mundo utópico, equilibrado e perfeito, poderia ser alcançado com o empenho da juventude para construir uma nova sociedade.
É um tremendo de um reducionismo o louvor excessivo dos jovens e do que eles representam como se esse fosse o único período importante e que valesse a pena de uma vida. É verdade que a beleza da juventude é mais formosa e que a força da juventude é invejável porque é capaz de feitos esportivos ou comerciais muito mais do que os indivíduos em outras fases.
Entretanto, os valores das pessoas mais velhas, funcionam como um saudável contrapeso social. E essa baliza, que só pode ser dada pelos mais experientes, desgraçadamente se perde se os idosos de uma sociedade se “infantilizam”. Chega a ser grotesco o idoso que banca o jovenzinho ou a idosa que se expõe como uma mocinha!
A adulação excessiva da juventude pode realmente seqüelar uma sociedade. O equilíbrio sempre será a fórmula de saúde. É interessante notar que nas sociedades anteriores a esse culto da beleza jovem em que hoje vivemos, o ancião sempre ocupou lugar de destaque e respeito. É o caso dos povos indígenas e seus caciques e pajés, dos povos africanos e seus líderes equivalentes, dos romanos e os senadores (senado provém de “senex”, “velho”), o mesmo em relação aos povos bárbaros e suas estruturas ou os orientais e sua relação com os antepassados.
Mesmo hoje pouco nos damos conta de idosos relevantes para a cultura do nosso país. E na estrutura familiar, também devemos abrir espaço para que os idosos ocupem papéis destacados, não necessariamente como detentores das decisões, mas como consultores preciosos.

Hoje os avós têm um papel talvez mais necessário que no passado, visto que também a maioria das mães trabalham fora de casa. Cada vez mais os casais recorrem aos avós de seus filhos,  que gozam de boa saúde, para que se ocupem das crianças. Sem dúvidas, essa é uma nova necessidade da vida moderna. É ocasião de que exerçam uma segunda paternidade e maternidade, propiciando uma relação mais estreita entre as diferentes gerações, diminuindo os naturais conflitos. Também os idosos, assim, aprendem com os mais jovens, podem entender melhor suas mentalidades e ajudá-los de forma mais efetiva.  
Para que tudo isso seja uma frutuosa realidade, a atitude dos que ainda não alcançamos a ancianidade, deve ser de respeito e compreensão com os mais velhos. Vejo com mais freqüência do que gostaria, que muitos filhos e netos não têm a paciência devida com seus familiares idosos. Desprezam, levianamente, os conselhos e as experiências de pessoas que além de vividas, desejam o nosso bem.
Gestos de impaciência, gritos ou simplesmente o frio desprezo em relação aos mais velhos é caminho de empobrecimento pessoal. É verdade que às vezes os idosos são mais lentos para se expressarem ou apresentam dificuldades de audição. Mas não é verdade que somos impacientes porque estamos muitas vezes correndo para “lugar-nenhum”? É saudável para nós, gastar tempo com os mais velhos, ouvir suas histórias, que são experiências que nos podem incrementar a vida e que nos abrem os olhos para mensagens do dia-a-dia que talvez não estejamos captando!

18 de novembro de 2010

A velhice é feia?

É verdade que em nenhum outro momento da História da Humanidade a expectativa de vida ao nascer alcançou patamares tão altos. Já somos, nos países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento, sociedades "velhas". Não que os idosos sejam a maioria da população, mas as crianças e os jovens já deixaram de ser o montante mais numeroso... Basta olhar à volta, dar uma espiada na janela da rua: vemos idosos se aventurando por nossos passeios esburacados, vemos cabeças prateadas circulando por todos os lados e vemos as filas ou os assentos "preferenciais" cada vez mais concorridos!
Apesar disso tudo, ainda culturalmente vivemos sob o regime da ditadura da beleza. As rugas se esticam, as cãs se pintam, as manchas se tiram. Não digo que plásticas, cuidados com a aparência e a pele sejam fúteis. É preocupante, entretanto, a não aceitação dos efeitos inexoráveis do tempo.
O tempo tudo modifica: desgasta os motores, enferruja o metal, modifica a natureza, expande o universo e, logicamente, envelhece os tecidos vivos. Não há matéria que não sofra os efeitos do tempo.
Acontece que o envelhecimento nos desconcerta – para alguns conscientemente, para outros no âmago do inconsciente – porque nos depara com uma realidade tão certa quanto tão desconfortável: nossa efemeridade.
    
Tememos a velhice, porque ela nos fala de um ciclo que tem seu ocaso. E nos esquecemos de admirar o crepúsculo, tão deslumbrante quanto o alvorecer. Esquecemos de contemplar o baile das folhas amarelas que caem no outono, tão cheias de beleza quanto o broto primaveril. Esquecemos de considerar que o fruto maduro é o doce termo de uma semente que assim permanecerá frutificando.


Os sinais de envelhecimento, que para muitos representam uma vergonha, deveriam ser, porém, distintivos de méritos.
Tendemos a achar a velhice feia porque pouco contemplamos das belezas imateriais. Valorizamos muito pouco as bonitas conseqüências das experiências bem aproveitadas. Ainda julgamos um rosto liso mais belo que um espírito prudente e sábio. Julgamos que um corpo perfeito é mais importante que dar a cada acontecimento da vida seu justo valor, medida difícil de ser alcançada na juventude. Julgamos ainda – quão tolos insistimos em ser! – que uma vida feliz é uma vida de fama, muito dinheiro, prazeres e conforto. E vemos multidões de pessoas frustradas apesar de tudo isso terem alcançado. Como diz um sábio oriental, é surpreendente que o homem de hoje vive como se não fosse morrer e depois morre como se não tivesse vivido.
Cada fase da vida tem suas belezas e seus dissabores. Talvez seja tolice, também, considerar uma determinada fase como "melhor idade". Resta-nos, portanto, a sabedoria de viver cada fase, com a intensidade do que nunca mais será vivido e que não deixará melancolia se mirarmos para frente, em busca dos bens que não passam.

16 de novembro de 2010

Tomar ou não tomar vitaminas para envelhecer bem?

Muita gente pensa que para envelhecer bem é preciso tomar algumas “vitaminas”. Outras pensam que “geriatra que é geriatra, deve prescrever alguma vitamina ao paciente idoso”. Muitas vezes ouço de pacientes ou familiares: “Doutora, acho que é preciso alguma vitamina, a senhora não acha?” Afinal, precisamos ou não precisamos tomar vitaminas?
As vitaminas juntamente com outras substâncias que compreendem o que chamamos de “micronutrientes”, são substâncias que o organismo requer para uma série de processos bioquímicos e para a formação de hormônios, fundamentais para o crescimento e para o bom funcionamento de todo o corpo. São chamados de “micronutrientes” porque, ao contrário dos macronutrientes (carboidratos, gorduras, proteínas), formam um grupo muito diversificado cujas necessidades diárias são muito pequenas, embora essenciais.
Esse conceito é importante porque já nos indica que, como são necessários em pequenas quantidades, alguns micronutrientes também podem causar intoxicações se forem consumidos em altas doses.
Há diversos estudos atuais que tentam comprovar os benefícios da utilização de polivitamínicos como complementação alimentar. Não podemos deixar de observar que há interesses comerciais envolvidos e, ainda assim, os resultados são bastantes frustros embora nem sempre sejam apresentados dessa forma aos consumidores. Além disso, é interessante notar, que quando se comparam reposições de micronutrientes em formas artificiais (cápsulas ou em pó, por exemplo) com formas naturais (por meio de uma dieta adequada), a reposição natural é sempre mais efetiva.
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Fraqueza, mal-estar, inapetência, desânimo, perda de memória, cansaço entre outros, fazem parte dos sintomas que levam muitas pessoas a consumir polivitamínicos. Entretanto, essa atitude é um grande risco para a saúde física e mental. Tal quadro deve ser avaliado por um médico de confiança, no caso dos idosos, preferencialmente por um geriatra. Muitas vezes, o que as pessoas julgam poder ser corrigido com “umas vitaminas”, podem, na verdade, ser doenças sérias: depressão, Alzheimer, Parkinson, insuficiência cardíaca, insuficiência pulmonar, insuficiência renal etc.
Para todos que procuram melhor desempenho físico ou mental e por isso desejam tomar vitaminas, o que é realmente recomendável é procurar ter uma vida mais saudável: dormir as horas necessárias e bem, alimentar-se de forma equilibrada, praticar atividade física, não fumar, consumir bebidas alcoólicas com moderação, manter-se bem hidratado e ter metas de vida. Muitas pessoas me pedem uma “receita” para envelhecer bem. Essa é a “receita”: ter uma vida saudável. Não há segredos. É verdade que nosso estilo de vida, especialmente nas grandes cidades, nem sempre propicia as melhores condições para essa vida saudável. Mas eis um bom motivo para buscar ajuda: a consulta médica é também um aconselhamento, uma ajuda personalizada. Não podemos esquecer nunca que a prevenção sempre será o melhor remédio.
Há muita propaganda sobre vitaminas nacionais e estrangeiras com promessas milagrosas de aumento de vitalidade, da capacidade física e mental, e isso é atraente porque é uma forma fácil de conseguir um bom objetivo. Ainda que não seja o que gostaríamos de “ouvir”, não devo deixar de dizer: em geral, tudo aquilo que realmente vale a pena na vida não é tão fácil de alcançar. Isso não quer dizer que não seja simples, mas exige esforço. E esse esforço vale a pena: saúde não se compra, se conquista!

15 de novembro de 2010

Depressão e envelhecimento: existe uma relação?

Vincent Van Gogh - Old Man in Sorrow
Muitas pessoas se perguntam se envelhecer traz tristeza ou depressão. Aliás, muitas pessoas temem o envelhecimento porque o encaram como uma fase melancólica, só de declínios e perdas. Entretanto, ainda que o envelhecimento físico seja inevitável, o envelhecimento do espírito, depende muito mais de nós mesmos, de como encaramos a vida, do que do tempo cronológico.
Por outro lado, as transformações que o corpo sofre no processo de envelhecimento, podem vir acompanhadas de uma série de desbalanços químicos cerebrais que desencadeiam doenças diversas tais como demências, outros processos degenerativos e também transtornos depressivos. 
Muito se tem estudado sobre a depressão, pois é muito comum. Alguns estudos estimam que até 20% da população em algum momento experimentará um episódio depressivo significativo ao longo da vida. As mulheres e os idosos são mais propensos à doença. Além de ser comum, é uma doença mental que costuma ser recorrente e com potencial de causar sérios problemas e limitações para a vida do paciente.
Sabe-se que a depressão não costuma ser um problema com uma única causa. Pode-se ficar deprimido por circunstâncias externas adversas intensas e prolongadas como problemas familiares, luto, desemprego, frustrações, violência, abandono ou por adversidades físicas transitórias ou crônicas, como infarto, acidente vascular cerebral, doenças reumatológicas, câncer etc.
Por todas essas razões, os idosos são mais vulneráveis ao desenvolvimento de quadros depressivos. Por viverem mais, sofrem maior exposição a todas as situações de risco citadas e, além do mais, têm um organismo mais suscetível às alterações cerebrais associadas à depressão.
Ainda que seja comum, a depressão também não pode ser banalizada. É um diagnóstico médico e deve ser avaliada com seriedade. Depressão não é só “estar triste”. Tristeza é um sentimento comum que todos os seres humanos experimentamos. Quando passamos por qualquer situação de perda ou de um desejo não alcançado, é natural sentirmos tristeza. Entretanto, esse sentimento passa a ser patológico, isto é, doentio, quando atinge uma intensidade e/ou um tempo de duração excessivos, ao ponto de comprometer o funcionamento normal da pessoa, ou seja, quando passa a “atrapalha” a vida normal.
No caso dos idosos, a depressão é muitas vezes pouco diagnosticada porque freqüentemente não se apresenta com os evidentes sintomas de perda de prazer pelas atividades antes agradáveis, alterações de sono e apetite e os sentimentos de tristeza marcante. Nos idosos, esses sintomas podem ou não estar presentes, mas vários outros também são encontrados: sentimentos de inutilidade e desesperança; sintomas físicos inexplicáveis apesar de os exames serem normais; lentificação dos movimentos e do raciocínio; apatia, alterações de memória e da concentração; irritabilidade, inquietação, indecisão, baixa auto-estima; cansaço intenso, perda de energia; diminuição do desejo sexual, sentimentos de culpa... Além disso tudo, podem surgir sintomas que beiram os delírios, crenças irreais, idéias de falência sobre si mesmo, o desejo de morte e até atos auto-agressivos elaboração do suicídio.
Nem sempre, diante de quadros depressivos em idosos, é fácil diferenciar uma situação de depressão “pura” do início de um processo de demência, por exemplo, de doença de Alzheimer. No início dessa doença os sintomas tendem a se sobrepor. Nessas situações o acompanhamento por um geriatra pode ser muito importante para orientar a família e propor tratamentos individualizados.
Muito se tem a fazer por um idoso com depressão. O tratamento, que inclui remédios – há diversas classes de medicamentos –, deve abordar também as outras esferas do ser humano: o suporte familiar, a prática regular de atividade física, a participação em grupos sociais e religiosos, o desenvolvimento de aptidões artísticas e manuais e a psicoterapia.
Todos esses aspectos do tratamento têm igual importância. Em relação aos remédios, alguns cuidados devem ser tomados: devem ser sempre prescritos pelo médico e o paciente deve seguir as dosagens propostas, referindo ao médico os efeitos colaterais e sendo persistente porque, em geral, os efeitos benéficos só são sentidos após mais de um mês de tratamento.
A depressão é, portanto, uma doença clínica comum, especialmente na população idosa. Precisamos estar atentos ao fato e não atribuirmos tais sintomas ao envelhecimento normal. Esses aspectos precisam ser abordados nas consultas de rotina e, quando tratados, podem melhorar significativamente a qualidade de vida. Afinal, é verdade que a vida se transforma, mas, como diz a canção, “saudade, sim, tristeza, não”!

14 de novembro de 2010

Doença de Alzheimer

Dr. Alois Alzheimer, médico alemão que primeiro descreveu a doença que hoje leva seu nome


Com o envelhecimento da população, são cada vez mais freqüentes os diagnósticos de doenças neurodegenerativas, isto é, doenças que levam à perda de funções neurológicas por processos destrutivos diversos. Dentre os processos neurodegenerativos mais comuns, encontra-se a doença de Alzheimer.
A doença de Alzheimer é uma causa (a primeira ou a segunda, na maioria dos estudos) de demência.
Demência é um distúrbio mental irreversível, que atinge geralmente idosos ainda que possa acometer adultos mais raramente. As alterações intelectuais da demência são de intensidade variável e envolvem diversos domínios da capacidade mental: a memória (capacidade de lembrar fatos passados), a linguagem (capacidade de comunicação), as habilidades motoras (coordenação e noção de localização espacial), as emoções (o modo de ser ou “personalidade”), a cognição (capacidade de fazer abstrações e julgamentos, também de fazer cálculos).
A história típica de doença de Alzheimer é a de indivíduos acima dos 60 anos de idade que começam primeiro a apresentar “lapsos” de memória e depois passam a fazer confusões com objetos, com datas, com as finanças, perdem-se em lugares antes conhecidos, mudam seu modo de ser, etc. É uma história lenta e progressiva. É preciso estar atento porque muitas pessoas acham que é normal da idade haver falhas de memória.
É verdade, que mesmo o envelhecimento saudável está associado a um grau de diminuição de velocidade de raciocínio, mas, em situações normais, mesmo os mais idosos, deveriam permanecer com todas as suas capacidades intelectuais preservadas ainda que às vezes um pouco menos ágeis. Isto significa que o normal é envelhecer com boa memória mantendo a própria autonomia.
A doença de Alzheimer ainda não tem cura. Há remédios que podem controlar alguns dos seus sintomas, mas a progressão é inevitável. Do momento do diagnóstico até o final de vida do paciente, podem passar de três a quinze anos, mais ou menos. Em média, esses pacientes vivem cerca de oito anos. O diagnóstico de certeza só seria possível com a realização de biópsia cerebral, o que não é feito na prática. Por isso, ele é geralmente inferido pelas características clínicas dos sinais e sintomas do paciente e pela exclusão de outros diagnósticos, por meio de exames laboratoriais e de imagem.
É importante procurar ajuda especializada quando um idoso começa a ter “falhas” de memória. Pode ser o início de um processo demencial, porém podem ser outras doenças. O importante é não acharmos “normal da idade”. Quando achamos normal, não tomamos providências e podemos deixar de prevenir causas reversíveis de perda de memória. Além do mais, mesmo que o diagnóstico seja de um processo irreversível, o conhecimento do fato é essencial para aprendermos a lidar com a situação.

12 de novembro de 2010

Como otimizar a consulta com o médico geriatra





As primeiras consultas geriátricas, em geral são mais demoradas que o habitual por isso deixo algumas sugestões e dicas para que as consultas médicas sejam mais proveitosas.

Horário: programe-se para chegar cerca de 20 minutos antes da sua consulta. Especialmente na primeira vez, talvez você não conheça bem o local, demore para estacionar o carro e ainda precisará preencher uma ficha com a secretária. Não são todos os médicos que atrasam! 

Acompanhante: quase sempre é interessante que o paciente vá à consulta acompanhado para que o ajude a se lembrar de algumas questões, a memorizar orientações e tratamentos propostos. Entretanto, o acompanhante deve procurar ser oportuno deixando o paciente se expressar livremente, não respondendo por ele, mas somente ajudando-o quando não se lembrar ou não puder falar por alguma limitação. O ideal é vir com um ou no máximo dois acompanhantes, evitando as “comitivas”. Muitas vezes, será conveniente que em algum momento da consulta o paciente converse às sós com o médico.

Como contar a história médica: procure fazer um resumo em ordem cronológica dos problemas de saúde que tiver (escreva algumas palavras que o ajudem a lembrar na hora da consulta). Ao falar de sintomas novos, conte quando começaram, quando são desencadeados, como são aliviados e como interferem no dia-a-dia. Se há vários sintomas, liste-os, fale o que acha mais importante primeiro e procure ser objetivo ao descrevê-los. Não deixe para o final da consulta nenhuma queixa, porque isso pode mudar todo o raciocínio médico sobre quadro clínico.

Procure lembrar-se também de todos os tratamentos médicos e cirurgias realizados no passado. Mencione os médicos ou especialidades com os quais faz ou fez algum tratamento. Procure pensar nos problemas de saúde de seus familiares mais próximos (pais, irmãos, tios, primos de primeiro grau e filhos). Essas informações serão questionadas pelo médico.

Lembre-se que o médico que lhe atende procurará ser compreensível. Médicos não são seres diferentes dos “comuns dos mortais”, são de “carne e osso”. Não tenha “medo de levar broncas”. Por isso, seja sincero, fale a verdade e não omita informações. O alicerce da relação médico-paciente, que é uma parceria em prol do bem do paciente, é a confiança.

Assim, se não estiver fazendo direito um tratamento, diga-o claramente e procure pensar nos motivos: esquecimento, incômodo, receio dos efeitos colaterais, impossibilidade financeira, não aceitação da doença etc. O médico, por sua vez, deverá ajudá-lo a contornar suas dificuldades nesse sentido. Também não minimize nem exagere nas descrições de seus sintomas.
Se houver dificuldade para ouvir ou enxergar, avise o médico. Não esqueça de levar os óculos e os aparelhos auditivos.

Não tenha receio de conversar sobre assuntos íntimos, eles integram o bem-estar físico-psíquico-espiritual da condição humana. Se estiver acompanhado, sinalize que deseja conversar em particular. Se for o caso, fale dos sentimentos que o incomodam: tristezas, angústias, estresse, questões sexuais, dificuldades econômicas, preocupações, sinais no corpo que o assustaram (um sangramento, por exemplo, ou uma dor “diferente”, um “caroço” etc).
Tire as suas dúvidas e pergunte com franqueza. O médico deve lhe explicar com linguagem compreensível. Volte a perguntar se continuar não entendendo alguma informação, seja sobre o seu diagnóstico, sobre os exames pedidos ou sobre as medicações e orientações prescritas.

É bastante útil, ao fim da consulta, que o paciente ou o acompanhante faça um resumo das orientações e dos tratamentos propostos para assegurar que nada foi mal compreendido. Em geral, o médico escreve as orientações mais importantes. Se ele não o fizer, faça você as suas anotações.

Medicações: leve anotado todos os nomes e dosagens de todas as medicações que foram utilizadas no último mês e os horários em que são tomadas. É importante não deixar de lado nenhum remédio, incluindo os “caseiros”, “naturais”, “vitaminas”, “calmantes”, colírios, remédios para dor, para tontura, para o intestino, para dormir, ou qualquer outro, mesmo que ache que “não tem muita importância”. Pode ser útil levar as receitas de outros profissionais.

Controles: algumas vezes os médicos pedem alguns controles a serem realizados em casa. Esses controles podem ser medidas de pressão arterial, de glicemia capilar, de temperatura ou podem ser “diários” em que o paciente deve anotar sua alimentação, atividades físicas ou funcionamento do intestino, da bexiga etc. Esclareça bem a forma de fazer esses controles e não esqueça de levá-los na próxima consulta!

Exames: leve todos os exames relacionados ao seu estado atual. Não esqueça dos que foram pedidos na última consulta. Quanto a exames de rotina, leve os últimos de cada tipo (última mamografia, ultrassonografia, ecocardiograma, densitometria óssea etc).
Em geral, não é aconselhável jogar fora exames antigos, mesmo se são normais. Eles podem ajudar a verificar a época em que determinada doença surgiu e acompanhar a evolução da mesma. Entretanto, se há vários exames repetidos, guarde, então, os dois últimos.

11 de novembro de 2010

Senescência, Senilidade e Envelhecimento bem sucedido

Senescência
Sabe-se, pelos atuais conhecimentos científicos, que o avançar do tempo traz alterações no organismo que são notadas quando o comparamos ao desempenho do adulto jovem. Essas alterações, no processo de senescência, são muito discretas, ainda que contínuas, porém não são intensas o suficiente para comprometer a vida do idoso a ponto de ele perder independência e autonomia. Alguns exemplos dessas alterações esperadas são: diminuição do vigor, da força e da rapidez de reações e funções, físicas e mentais.

Senilidade

Já os efeitos ao longo dos anos de doenças mal controladas, levam a desgastes do organismo que vão além do processo natural. Portanto, o diagnóstico precoce e o acompanhamento rigoroso das doenças que por ventura nos acometerem ao longo da vida, é essencial para um envelhecimento saudável. São exemplos de comprometimentos freqüentes que são devidos a processos anormais do envelhecimento: doenças cardíacas decorrente de hipertensão arterial e/ou diabetes, dificuldade motora por causa de artrose, perda de memória devido à doença de Alzheimer, doença pulmonar causada pelo tabagismo etc.

Envelhecimento bem sucedido
É verdade que nem todas as doenças são ainda totalmente evitáveis. Mas mesmo assim, muitas doenças dentre as mais comuns, podem ser pelo menos minimizadas. Nesse contexto, a promoção de saúde tem papel fundamental para quem deseja um envelhecimento bem sucedido. Por isso, podemos começar o acompanhamento com o médico geriatra – que também é necessariamente um bom clínico geral – desde cedo, ao redor dos quarenta anos ou antes.

10 de novembro de 2010

O que é "Geriatria"

Geriatria é a especialidade médica que se dedica ao cuidado da pessoa idosa. Em vistas das mudanças sociais de nossa sociedade, nascem menos crianças e morre-se mais tarde em comparação aos séculos passados da História da Humanidade. Isso significa que cada vez mais, essa especialidade ganhará destaque e esses profissionais serão mais necessários.
Entretanto, o aumento da expectativa de vida, leva-nos, às vezes, a sentimentos contraditórios em relação à vida: não desejamos morrer, tampouco queremos envelhecer.
Ainda que seja uma dura realidade, não é possível evitar por completo o envelhecimento, uma vez que se trata de um processo natural do ciclo de vida de todos os seres vivos. No entanto, cabe aqui, diferenciarmos o envelhecimento normal, tecnicamente chamado de senescência, daquele processo anormal ou patológico, que chamamos de senilidade.


Ora, se o envelhecimento enquanto senescência é um processo normal, devemos buscar como meta de saúde, o envelhecimento saudável, livre dos efeitos da senilidade.