Penso que estou no segundo ato da minha vida, uma fase muito interessante porque é plena vida adulta, passado o período de estréia. O adulto tem já um traquejo que nos ajuda a encarar a vida de uma forma diferente.
Este é um blog eclético. A Geriatria, especialidade médica voltada para o cuidado das pessoas em processo de envelhecimento, é o nosso eixo e o nosso pretexto. Entretanto, assim como os idosos costumam ter muitas histórias para contar, os nossos temas são muito variados: vão desde aspectos médicos técnicos, passam pela Bioética e chegam até os cumes da Teologia!
30 de junho de 2012
7 de maio de 2011
Fratura de colo de fêmur nos idosos
A fratura de colo de fêmur em pessoas com mais de 65 anos é uma ocorrência infelizmente comum e grave.

Geralmente esse tipo de fratura ocorre por uma queda do idoso ou por traumas físicos menores. É um dos motivos pelos quais nós, geriatras e gerontólogos, nos preocupamos tanto com o fato de um idoso cair. Quase sempre o tratamento será cirúrgico com aplicação de parafusos, placa ou prótese total ou parcial da articulação do quadril, isto é, substituição da articulação por uma “junta artificial” metálica.
Mas por que nos preocupamos tanto se há tratamento?
Porque a situação clínica desses pacientes devida ao próprio trauma causador da fratura, ao procedimento cirúrgico e ao período de reabilitação somam um risco de morte muito alto. Após um ano de uma fratura dessas, diversos estudos mostram que a taxa de morte dos idosos é em média 25%, independentemente do tratamento. Isso quer dizer que a cada quatro idosos que sofrem uma fratura de fêmur, um deve falecer no próximo ano. É para preocupar, não?
Além disso, mesmo entre os pacientes que não chegam a morrer, entre 40% e 47% deles terão alguma complicação grave no período de até 2 anos após o evento. As complicações podem ser muitas: falha da cirurgia e necessidade de reoperação, infecções diversas, acidente vascular cerebral (“derrame”), embolia pulmonar, desnutrição, depressão, confusão mental...
Mais uma vez volto a insistir na necessidade de prevenção de acidentes, principalmente quedas (em casa ou na rua) e atropelamento. Diante de uma situação mais grave que muitos cânceres, não podemos deixar de lembrar que a prevenção é o melhor remédio!
4 de maio de 2011
Envelhecimento populacional e economia
Entrevista concedida à Radio Cultura sobre envelhecimento populacional no Brasil.
Espero que gostem!
http://www.culturabrasil.com.br/programas/estudio-cultura/destaques-2/numero-de-idosos-no-brasil-pode-triplicar-ate-2050-diz-estudo
Espero que gostem!
http://www.culturabrasil.com.br/programas/estudio-cultura/destaques-2/numero-de-idosos-no-brasil-pode-triplicar-ate-2050-diz-estudo
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3 de maio de 2011
Entrevista sobre geriatria
Publico uma entrevista concedida ao Blog Longevidade da Silvia Masc, que faz um excelente trabalho de informação. Admiro muito o trabalho dela!
LONGEVIDADE: Qual a diferença de Geriatria e Gerontologia?
DRA. LUCIANA: Ambos os termos foram criados no início do século XX. “Geriatria” é a especialidade médica voltada aos indivíduos em processo franco de envelhecimento e às questões de saúde peculiares a esse período da vida. Já o termo “gerontologia” refere-se ao estudo do envelhecimento de forma mais ampla, em todas as áreas relacionadas à saúde. Nesse sentido, muitas profissões podem se dedicar à gerontologia, ou seja, ao que se refere às especificidades dessa população. Assim, outros profissionais podem se especializar em gerontologia dentro de seu âmbito de atuação.
LONGEVIDADE: Quais os objetivos principais da Geriatria?
DRA. LUCIANA: Em primeiro lugar essa especialidade médica está focada na prevenção, mas também no tratamento de doenças e outros problemas comuns aos indivíduos que estão envelhecendo. O geriatra tem uma visão ampla do paciente, buscando sempre formas de contornar, na medida do possível, limitações à independência física e à autonomia moral dos idosos sob seus cuidados.
LONGEVIDADE: Quais os problemas mais comuns enfrentados pelos idosos?
DRA. LUCIANA: Há problemas em diversos campos: no campo da saúde, por exemplo, as doenças mais comuns são hipertensão arterial, diabetes, elevação do colesterol, osteoporose, artrose, perda de memória, depressão, obesidade, quedas, fraqueza etc. Entretanto, há muitas pessoas que chegam a idades avançadas sem muitas doenças e com enorme independência física e mental. Esse é o objetivo do envelhecimento saudável, da promoção de saúde desde cedo.
Outros problemas enfrentados pelos idosos são os sociais: mudanças de papéis dentro da família e na sociedade, por exemplo, quem antes gerenciava passa a ser gerenciado; perdas econômicas devido às baixas aposentadorias; isolamento e perdas afetivas pela morte de pessoas próximas. São situações que não raramente geram crises nas pessoas que envelhecem.
LONGEVIDADE: Como esses problemas podem ser prevenidos?
DRA. LUCIANA: No âmbito da saúde física e mental é preciso cultivar desde o mais cedo possível, hábitos saudáveis de vida. São comportamentos que fazem muita diferença com o passar dos anos: alimentação equilibrada; prática regular de atividade física; dormir bem; consumir pouco álcool; não fumar; descansar com periodicidade; cultivar vínculos sólidos com a família e com os amigos; evitar um ritmo frenético, estressante de vida.
No âmbito social, é muito importante planejar o envelhecimento. Em geral as pessoas com 20 ou 30 anos não pensam nisso mas esse planejamento não pode ficar para quando faltarem 5 anos para a aposentadoria. O indivíduo precisa ao menos idealizar o que pretende fazer quando se aposentar e, de preferência, ter reservas econômicas para esse período que cada vez tende a ser mais longo e que pode ser muito feliz. Nesse sentido, a socialização, os vínculos de amizade e a espiritualidade têm papel central para uma velhice feliz, ainda que com alguns problemas já que a vida sempre é permeada de dificuldades...
LONGEVIDADE: Mesmo saudável o idoso deve procurar um médico? Por quê?
DRA. LUCIANA: Sem dúvidas que sim. O ditado é sábio: é melhor prevenir do que remediar! Ou em outras palavras, a prevenção é sempre o melhor remédio.
Há pessoas que afirmam que não vão ao médico porque “quem procura, acha”. Isso é uma grande bobagem porque muitos problemas de saúde podem ser minimizados, quando não curados, se são diagnosticados cedo. E mesmo na ausência de doenças, há o aconselhamento de hábitos saudáveis individualizados que não devem ser menosprezados como parte da consulta médica.
Além do mais, a prevenção da perda de independência física ou da autonomia moral, ou seja, da capacidade de gerenciar a própria vida, são aspectos essenciais que podem ser analisados na consulta com o especialista.
LONGEVIDADE: Como a atividade física pode melhorar a vida de um idoso?
DRA. LUCIANA: A atividade física só traz benefícios, está associada com a minimização dos problemas mais comuns aos idosos: melhora o controle da pressão arterial, do açúcar no sangue, do colesterol, das dores crônicas; melhora a fraqueza muscular; fortalece os ossos; melhora queixas de esquecimentos, de sintomas depressivos, de tontura, desequilíbrio, ansiedade; melhora qualidade do sono e a qualidade de vida de uma forma geral.
LONGEVIDADE: É importante que outros profissionais também acompanhem o idoso ou apenas o geriatra já é suficiente?
DRA. LUCIANA: O geriatra funciona como um gerente do seu paciente. É comum que o idoso tenha que passar em vários especialistas e muitas vezes esses diversos acompanhamentos são fragmentados e um profissional acaba “atrapalhando” o outro. O geriatra deve funcionar como um pivô desse elenco todo. No âmbito médico, boa parte dos problemas mais comuns podem ser acompanhados só pelo geriatra, porém algumas vezes ele mesmo vai julgar ser necessário a opinião ou acompanhamento de um especialista ou de outros profissionais.
LONGEVIDADE: Qual a diferença entre loucura e demência?
DRA. LUCIANA: “Loucura” é um termo pejorativo e impreciso. Do ponto de vista técnico, diz muito pouco ou só imprime um preconceito. Pessoas sui generis podem ser chamadas de “loucas”quando na verdade são simplesmente “diferentes”.
Já o termo “demência”, esse, sim, é um termo técnico. Demência é um conjunto de sinais e sintomas que demonstram que aquele indivíduo está padecendo de uma doença com repercussões na sua capacidade de raciocínio, memória, coordenação, compreensão etc. Esse indivíduo precisa ser avaliado por um especialista e deve ser tratado.
Chamar de doença o que é doença é mais importante do que parece: uma pessoa que tem toda uma história de vida e que começa a adoecer e mudar seu comportamento, deve ter sua biografia preservada. Essa pessoa precisa ser protegida para que não seja mal interpretada. Por exemplo: um idoso que sempre foi muito correto e que começa a apresentar comportamentos indecorosos precisa ser protegido já que ele não é mais senhor de seus atos. E a família necessita perceber a situação e procurar ajuda, sem “achar que é normal da idade”.
LONGEVIDADE: Para os idosos que conduzem veículo, em que momento devem para de fazê-lo?
DRA. LUCIANA: Essa é uma boa pergunta. Não há uma idade máxima para dirigir. Cada pessoa apresenta um ritmo de envelhecimento muito diferente da outra. Sempre cito a comparação de um idoso de 60 anos que pode estar acamado por uma seqüela de um acidente vascular, por exemplo, com outro de 90 anos que ainda trabalha nos seus negócios. São situações completamente diferentes.
Assim, a questão de dirigir deve será analisada caso a caso. É fato comum que o envelhecimento traz um retardo nos reflexos e lentificação dos movimentos mas também costuma trazer hábitos mais prudentes. Portanto, devemos olhar o conjunto da saúde do idoso. Esse assunto pode ser discutido na consulta com o geriatra.
LONGEVIDADE: Em que momento, devemos consultar um geriatra?
DRA. LUCIANA: Não há uma idade ideal para fazê-lo. O geriatra é um clínico geral também por isso está apto a começar a acompanhar seus pacientes desde a idade adulta. Entretanto, sabemos que não há um número de geriatras suficiente para a parcela da população que está envelhecendo. Assim, outros médicos costumam indicar um geriatra quando o paciente apresenta diversas limitações comuns à idade e que o geriatra está habituado a lidar.
LONGEVIDADE: Quais sugestões, a Sra. daria para enriquecer o conteúdo do Longevidade?
DRA. LUCIANA: Acho o blog com uma atividade incrível. É simplesmente maravilhoso que ele seja atualizado diariamente. É um trabalho imenso que a Silvia leva com maestria. O conteúdo é tão diversificado que não tenho muito como sugerir coisas novas! Talvez o blog poderia fazia mais parcerias com instituições diversas para expandir seu raio de ação e a Silvia poderia se dedicar inteiramente a ele!
Leia mais: http://longevidade-silvia.blogspot.com/2011/04/apresentando-geriatra-dra-luciana.html#ixzz1LJdbcTKQ
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2 de maio de 2011
Um texto para refletir - Rubem Alves
Esse texto estava recolhido esses dias no blog de uma amiga: (http://supremamaegaia.blogspot.com/2011_04_24_archive.html#3599455056169133929)
Sobre a Velhice
Por oposição aos gerontologistas, que analisam a velhice como um processo biológico, eu estou interessado na velhice como um acontecimento estético. A velhice tem a sua beleza, que é a beleza do crepúsculo. A juventude eterna, que é o padrão estético dominante em nossa sociedade, pertence à estética das manhãs. As manhãs têm uma beleza unica que lhes é própria. Mas o crepúsculo tem um outro tipo de beleza, totalmente diferente da beleza das manhãs. A beleza do crepúsculo é tranquila, silenciosa - talvez solitária.
No crepúsculo, tomamos consciência do tempo. Nas manhãs, o céu é como um mar azul, imóvel. Nos crepúsculos, as cores se põem em movimento: o azul vira verde, o verde vira amarelo, o amarelo vira abóbora, o abóbora vira vermelho, o vermelho vira roxo - tudo rapidamente. Ao sentir a passagem do tempo, nós percebemos que é preciso viver o momento intensamente. "Tempus fugit" - o tempo foge -, portanto, "carpe diem" - colha o dia. No crepúsculo, sabemos que a noite está chegando. Na velhice, sabemos que a morte está chegando. E isso nos torna mais sábios e nos faz degustar cada momento como uma alegria unica. Quem sabe que está vivendo a despedida olha para a vida com olhos mais ternos . . .
(Rubem Alves)
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12 de abril de 2011
Gripe, resfriado e vacina
Todo ano é comum ouvirmos comentários semelhantes em relação à vacina da gripe comum: "é só tomar, para ficar gripado", "se tomo fico doente, se não tomo, não fico", “conheço várias pessoas que ficaram doentes depois que tomaram a vacina”, etc.
Para resolver essas dúvidas que são freqüentemente levantadas por nossos pacientes, vamos considerar alguns pontos:
1) a vacina é contra o vírus da influenza, causador da gripe.
2) gripe é diferente de resfriado. Este último pode ser causado por diversos vírus: adenovirus, parainfluenza, arbovirus, rinovirus e muitos outros.
3) na maioria das vezes em que temos dor de garganta, escorrimento e obstrução nasal, pouco de dor de cabeça com ou sem febre, estamos, na verdade, com resfriado e não gripe.
A gripe em geral dura muitos dias, cerca de dez, a pessoa fica arrebentada, tem dor no corpo, febre em geral alta, calafrios, dor de cabeça, além dos sintomas respiratórios (nariz entupido, catarro, tosse, dor de garganta, bronquite etc).
Ou seja, a infecção é mais complicada que o resfriado e, para os extremos de idade (crianças e idosos), a gripe pode complicar facilmente para infecções bacterianas mais graves (por exemplo, pneumonia). Por isso a vacina é tão importante, ela diminui, comprovadamente, as complicações e a mortalidade, especialmente em casos de indivíduos com algum tipo de fragilidade de saúde.
4) em relação aos que dizem que ficam doentes depois de tomar a vacina, isso se deve porque, em geral, as campanhas de vacinação ocorrem num período do ano em que já há muita disseminação dos resfriados (causados por tantos vírus diferentes). Por isso é tão comum ficar doente após a vacina. Na verdade, não é a vacina que causa a infecção, que não é gripe mas, sim, mais um resfriado!
Idosos: vacinem-se!
Idosos: vacinem-se!

27 de janeiro de 2011
Superação
Gostaria que vissem esse vídeo sobre Nick Vujicic. Para quem não o conhece, vale a pena. É um exemplo para todas as idades. Um homem que aprendeu a se superar dia a dia.
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8 de janeiro de 2011
Quedas X Câncer

Muita gente tem pavor de câncer. Em tese, qualquer tecido do organismo pode desenvolver um tumor e sabemos que esse risco aumenta com a idade.
Entretanto, esse medo do câncer muitas vezes é desproporcional: primeiro porque existem muitas outras doenças que podem limitar a nossa saúde que precisam ser prevenidas e tratadas. Segundo porque hoje em dia muitos cânceres são curáveis.
Pensando na população mais velha, uma queda, por exemplo, pode ser muito mais devastadora que um câncer.
Esse é um problema que merece a nossa atenção. Quedas são muito comuns nas pessoas acima dos 60 anos e são um dos maiores fatores que ameaçam a independência dos idosos. Cair não é normal embora seja comum. Todos os anos, mais de um terço dos idosos que vivem em suas casas caem. Ou seja, o risco é muito grande. E esse risco aumenta com o passar dos anos.
As consequências de uma queda podem ser leves ou sérias. Vão desde escoriações até fraturas ou traumatismo craniano. Idosos completamente independentes do dia para noite podem passar a ser acamados, dependentes e necessitarem internação em instituições de longa permanência. Entre os idosos, as quedas são a quinta causa de morte, geralmente uma causa indireta.
Além das consequências físicas, as quedas também costumam trazer um ônus psicológico grande. O medo de cair novamente é, muitas vezes, "traumatizante" levando o idoso a diminir suas atividades perdendo, assim, qualidade de vida. O medo de cair não deve, por exemplo, ser motivo para limitar saídas na rua.
Por todo o exposto, fica claro que cair é sempre um fato importante, ainda que não tenha gerado lesões diretas. Todas as quedas recentes devem ser relatadas na consulta geriátrica. E caberá a todos os cidadãos, independente da idade, procurarem colaborar na prevenção das quedas de idosos.
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7 de janeiro de 2011
Velocidade do passo e mortalidade
O que é intuitivo é também comprovado.
Uma recente metanálise (estudo que analisa diversos estudos de uma só vez) acaba de demonstrar que a velocidade de caminhada de um idoso é direitamente proporcional à sobrevida. Analisando 9 estudos que englobavam no total mais de 34 mil pessoas com média de idade de 73,5 anos, residentes em suas casas, foi observado que em cinco anos de acompanhamento e depois em dez anos, a velocidade de caminhada é associada com a sobrevivência.
Esse estudo não significa que devemos "acelerar" os idosos. Significa que a velocidade de caminhada do idoso é mais um parâmetro para nós, geriatras, na avaliação global do estado de saúde do idoso.
É sabido que a velocidade da caminhada é associada indiretamente com risco de quedas e outros problemas. O estudo atual apenas comprovou que a velocidade tem a ver com sobrevivência, tempo de vida.
Mais um motivo para estimularmos o fortalecimento muscular e a prática de atividades físicas, essenciais para melhorar o desempenho em tantos aspectos da saúde.Artigo médico: JAMA. 2011;305:50-58, 93-94.
17 de dezembro de 2010
Uma entrevista sobre o consumo de vitaminas
Fui convidada pela jornalista Isabel Vasconcellos para uma entrevista no seu charmoso "estúdio" à beira da Avenida Paulista. A entrevista dura cerca de 20 minutos e remete-se a algumas das dúvidas mais frequentes sobre o tema.
O vídeo original está em http://www.isabelvasconcellos.com.br/So%20Saude.htm
O vídeo original está em http://www.isabelvasconcellos.com.br/So%20Saude.htm
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15 de dezembro de 2010
Problemas comuns do sono
Embora os idosos de um modo geral tenham menor necessidade de horas de sono, conforme já comentado, fica clara a importância de dormir bem em qualquer idade. Muita gente dorme mal e pensa que isso “é assim mesmo”, que são “problemas da idade” e por isso não procuram ajuda.
Dentre os problemas de sono mais comuns que afetam os idosos, citamos os mais freqüentes:
Insônia: é a dificuldade de iniciar ou manter o sono. Pode ser do tipo “inicial” (problema maior no começo da noite), “intermediária” se há dificuldade em manter o sono (p problema é maior pela madrugada) e “final” se o indivíduo desperta cedo demais (problema ao amanhecer). A insônia é considerada crônica se já existe há mais de 3 semanas.
Insônia: é a dificuldade de iniciar ou manter o sono. Pode ser do tipo “inicial” (problema maior no começo da noite), “intermediária” se há dificuldade em manter o sono (p problema é maior pela madrugada) e “final” se o indivíduo desperta cedo demais (problema ao amanhecer). A insônia é considerada crônica se já existe há mais de 3 semanas.
Síndrome da apnéia obstrutiva do sono: é caracterizada por freqüentes “paradas respiratórias” por mais de dez segundos durante o sono, causadas pela obstrução ao fluxo de ar pelas vias áreas. Em geral, a síndrome está acompanhada pelos roncos que são os sons vibratórios que ocorrem à passagem do ar nessas vias parcialmente fechadas.
Síndrome das pernas inquietas: é um distúrbio caracterizado por sensações desagradáveis (dor, incômodo, “puxões”, “picadas”, queimação...) que levam a movimentos involuntários freqüentes das pernas quando se deita ou se está descansando, ao ponto de atrapalhar significativamente a qualidade do sono. Esses sintomas podem ocorrer ainda em situações de repouso, no fim do dia, ao assistir à TV, por exemplo, ou em outras situações em que se tenta relaxar. 7 de dezembro de 2010
A importância de dormir bem

Passamos boa parte da vida dormindo, cerca de um terço dela. Dormir bem é necessário para se ter uma boa qualidade de vida. Inúmeros estudos o comprovam.
O sono de má qualidade está relacionado a problemas de memória, fadiga, dores, baixo rendimento no trabalho, maior risco de transtornos psiquiátricos como depressão e ansiedade ou de doenças como hipertensão arterial, diabetes, infarto, acidente vascular encefálico, maior risco de acidentes entre outros problemas.
O sono não é um “desligamento” do estado de vigília. É um estado de intensa atividade cerebral e de reparação dos nossos músculos, ossos, do sistema imune; consolidação da memória, liberação de hormônios e muitas outras funções essenciais para o organismo.
Estima-se que mais de 12% da população apresenta distúrbios do sono. Entre os idosos, cerca de 90% deles, quando diretamente questionados, apresentam alguma queixa ou insatisfação específica.
Com o envelhecimento, surgem algumas alterações no ciclo normal do sono: diminuição do tempo total de sono, demora para iniciá-lo, aumento das fases superficiais e conseqüente diminuição do sono profundo e mais reparador, aumento de despertares resultando em menor eficiência global.
Além das alterações próprias do envelhecimento, outros fatores podem afetar negativamente o sono dos idosos: dores, ambiente inadequado para o repouso, desconfortos emocionais, uso de múltiplos medicamentos, doenças como refluxo gastro-esofágico ou problemas respiratórios e cardíacos.
Os diagnósticos e tratamentos dos distúrbios do sono podem ser feitos por meio da história clínica e algumas vezes requerem exames gerais ou específicos, como o estudo de polissonografia, em que o paciente passa uma noite no laboratório para análise de cada componente do sono. Dormir com qualidade é essencial para se ter uma boa saúde física e mental. É preciso conversar com o geriatra também sobre esse aspecto. Muitos desses distúrbios, quando bem controlados, trazem significativa melhora na qualidade de vida.
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23 de novembro de 2010
5 minutos que valem uma longa vida

Como médica geriatra e cidadã, chama-me muita atenção pelas ruas de São Paulo, o número de idosos, acompanhados ou sozinhos, ágeis ou até com sérias dificuldades de locomoção, que atravessam as ruas da cidade – que tem um dos tráfegos mais agressivos do mundo – fora da faixa de pedestres ou na faixa, mas em momentos inadequados. Flagro esse tipo de comportamento quase diariamente.
Fazendo um levantamento pelo site do DataSUS, só na cidade de São Paulo, de janeiro a setembro de 2010, houve mais de 800 internações hospitalares de pessoas maiores de 50 anos e 106 mortes nessa faixa etária, por atropelamento. Durante todo o ano de 2009 foram quase 1000 internações e 119 mortes. Levando em conta que esses dados só se referem aos piores desfechos, é incalculável, entretanto, o tamanho do problema, um problema de maus hábitos da nossa cultura.
O que significa de fato aguardar 5 minutos até que o farol seja favorável à travessia? Não podemos esquecer, que dado o fluxo de veículos na cidade, os semáforos para pedestres freqüentemente mantém-se aberto durante um tempo insuficiente para a travessia de uma pessoa com dificuldades de locomoção. Portanto, nesses casos, a travessia deve ser feita em duas etapas, normalmente aguardando na ilhas centrais das grandes avenidas, por exemplo. 

Sugiro que, independentemente da idade, todos tenhamos a responsabilidade e nos eduquemos em primeiro lugar, a fazer travessias seguras. Hoje muitas pessoas chegam à terceira idade em excelente estado de saúde ou em estado bastante bom. Vemos, no entanto, que um número nada desprezível de idosos sofrem, já na maturidade, algum tipo de acidente que transforma totalmente essa história vitoriosa de saúde.
A maioria dos acidentes, como bem sabemos, é evitável. As quedas da própria altura são, entre as causa externas, as que mais levam a lesões permanentes entre os idosos. Esse assunto ficará para outro artigo, mas hoje, só queria ressaltar o papel de cada cidadão na educação no trânsito, um grande tema de saúde pública que afeta a todas as idades.
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20 de novembro de 2010
Um sonho realizado aos 75 anos
Therezinha nasceu em Pirajuí, nos idos anos de 1935. É a 13ª de 14 filhos de uma família que tinha poucos recursos econômicos.
Embora não tenha nem completado o primeiro grau nos estudos, aos 35 anos, sem saber tocar nenhum instrumento musical, começou a compor. Tinha boa voz e passou a criar suas próprias melodias que cantarolava enquanto trabalhava. Therezinha compôs dezenas de músicas, que só ganharam gravações caseiras de alguns amigos. Primeiro vinha a melodia na cabeça, depois as letras eram postas como uma arte de amor. Para não esquecer nenhuma de suas criações, em um Natal, Therezinha ganhou um gravador de fitas cassetes, que hoje guardam a memória de seus pescadores, de suas meninas, de seus cantos natalinos.
Aos 55 anos, já uma senhora autodidata, aventurou-se a escrever contos infantis. Tem outras dezenas deles. São criativos, inéditos, com lições divertidas às crianças de hoje que, apesar da Internet, apesar dos games, apesar da TV HD, continuam sendo crianças que necessitam aprender dos personagens míticos.
Quero registrar minha admiração e meu tributo, a essa senhora que aos 75 anos conseguiu realizar um sonho longamente acalentado: publicou pela primeira vez um livro com alguns dos seus contos. Mas o sonho não veio fácil: Therezinha tem um tino pelo comércio invejável. Agora, ela que sempre fez propaganda dos outros, está aprendendo a fazer a própria propaganda para vender pessoalmente a maioria dos seus livros.
Lá a vejo, com seus passos cuidadosos pelas calçadas da metrópole, visitando seus muitos e muitos conhecidos. Lá vai Therezinha, ensinando que um sonho se constrói a cada dia da vida, seja longa seja curta. Lá vai Therezinha, ensinando que o sonho não é quimera, é meta que nos mantém jovens.
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| Quem desejar conhecer os contos de Therezinha, ligar para (11) 3171-2198 |
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19 de novembro de 2010
O idoso tem função social?
Um sinal de pobreza ética de uma sociedade é o menosprezo de seus concidadãos debilitados. Como não nos lembrarmos da eugenia nazista que pregava a eutanásia dos doentes mentais, dos velhos improdutivos ou da esterilização dos "não puros"?
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| Propaganda nazista: o custo dos cuidados de um doente congênito ao longo de sua vida, para o "povo novo" do Reich |
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| Propaganda nazista: um jovem trabalhador sob o peso de pessoas "improdutivas" que geram muitos custos até completarem 60 anos de idade |
E nos nossos dias, na nossa sociedade, ainda que os idosos agora estejam por todas as partes, cabe-nos um grande desafio, para todas as idades: compreender melhor a função social que as pessoas idosas são chamadas a exercer.
O que fazia Hitler e qualquer tirano? Convencer a população de que o mundo utópico, equilibrado e perfeito, poderia ser alcançado com o empenho da juventude para construir uma nova sociedade.
É um tremendo de um reducionismo o louvor excessivo dos jovens e do que eles representam como se esse fosse o único período importante e que valesse a pena de uma vida. É verdade que a beleza da juventude é mais formosa e que a força da juventude é invejável porque é capaz de feitos esportivos ou comerciais muito mais do que os indivíduos em outras fases.
Entretanto, os valores das pessoas mais velhas, funcionam como um saudável contrapeso social. E essa baliza, que só pode ser dada pelos mais experientes, desgraçadamente se perde se os idosos de uma sociedade se “infantilizam”. Chega a ser grotesco o idoso que banca o jovenzinho ou a idosa que se expõe como uma mocinha!
A adulação excessiva da juventude pode realmente seqüelar uma sociedade. O equilíbrio sempre será a fórmula de saúde. É interessante notar que nas sociedades anteriores a esse culto da beleza jovem em que hoje vivemos, o ancião sempre ocupou lugar de destaque e respeito. É o caso dos povos indígenas e seus caciques e pajés, dos povos africanos e seus líderes equivalentes, dos romanos e os senadores (senado provém de “senex”, “velho”), o mesmo em relação aos povos bárbaros e suas estruturas ou os orientais e sua relação com os antepassados.
Mesmo hoje pouco nos damos conta de idosos relevantes para a cultura do nosso país. E na estrutura familiar, também devemos abrir espaço para que os idosos ocupem papéis destacados, não necessariamente como detentores das decisões, mas como consultores preciosos.
Hoje os avós têm um papel talvez mais necessário que no passado, visto que também a maioria das mães trabalham fora de casa. Cada vez mais os casais recorrem aos avós de seus filhos, que gozam de boa saúde, para que se ocupem das crianças. Sem dúvidas, essa é uma nova necessidade da vida moderna. É ocasião de que exerçam uma segunda paternidade e maternidade, propiciando uma relação mais estreita entre as diferentes gerações, diminuindo os naturais conflitos. Também os idosos, assim, aprendem com os mais jovens, podem entender melhor suas mentalidades e ajudá-los de forma mais efetiva.
Hoje os avós têm um papel talvez mais necessário que no passado, visto que também a maioria das mães trabalham fora de casa. Cada vez mais os casais recorrem aos avós de seus filhos, que gozam de boa saúde, para que se ocupem das crianças. Sem dúvidas, essa é uma nova necessidade da vida moderna. É ocasião de que exerçam uma segunda paternidade e maternidade, propiciando uma relação mais estreita entre as diferentes gerações, diminuindo os naturais conflitos. Também os idosos, assim, aprendem com os mais jovens, podem entender melhor suas mentalidades e ajudá-los de forma mais efetiva.
Para que tudo isso seja uma frutuosa realidade, a atitude dos que ainda não alcançamos a ancianidade, deve ser de respeito e compreensão com os mais velhos. Vejo com mais freqüência do que gostaria, que muitos filhos e netos não têm a paciência devida com seus familiares idosos. Desprezam, levianamente, os conselhos e as experiências de pessoas que além de vividas, desejam o nosso bem.
Gestos de impaciência, gritos ou simplesmente o frio desprezo em relação aos mais velhos é caminho de empobrecimento pessoal. É verdade que às vezes os idosos são mais lentos para se expressarem ou apresentam dificuldades de audição. Mas não é verdade que somos impacientes porque estamos muitas vezes correndo para “lugar-nenhum”? É saudável para nós, gastar tempo com os mais velhos, ouvir suas histórias, que são experiências que nos podem incrementar a vida e que nos abrem os olhos para mensagens do dia-a-dia que talvez não estejamos captando!


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18 de novembro de 2010
A velhice é feia?
É verdade que em nenhum outro momento da História da Humanidade a expectativa de vida ao nascer alcançou patamares tão altos. Já somos, nos países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento, sociedades "velhas". Não que os idosos sejam a maioria da população, mas as crianças e os jovens já deixaram de ser o montante mais numeroso... Basta olhar à volta, dar uma espiada na janela da rua: vemos idosos se aventurando por nossos passeios esburacados, vemos cabeças prateadas circulando por todos os lados e vemos as filas ou os assentos "preferenciais" cada vez mais concorridos!

O tempo tudo modifica: desgasta os motores, enferruja o metal, modifica a natureza, expande o universo e, logicamente, envelhece os tecidos vivos. Não há matéria que não sofra os efeitos do tempo.
Acontece que o envelhecimento nos desconcerta – para alguns conscientemente, para outros no âmago do inconsciente – porque nos depara com uma realidade tão certa quanto tão desconfortável: nossa efemeridade.
Tememos a velhice, porque ela nos fala de um ciclo que tem seu ocaso. E nos esquecemos de admirar o crepúsculo, tão deslumbrante quanto o alvorecer. Esquecemos de contemplar o baile das folhas amarelas que caem no outono, tão cheias de beleza quanto o broto primaveril. Esquecemos de considerar que o fruto maduro é o doce termo de uma semente que assim permanecerá frutificando.


Os sinais de envelhecimento, que para muitos representam uma vergonha, deveriam ser, porém, distintivos de méritos.
Tendemos a achar a velhice feia porque pouco contemplamos das belezas imateriais. Valorizamos muito pouco as bonitas conseqüências das experiências bem aproveitadas. Ainda julgamos um rosto liso mais belo que um espírito prudente e sábio. Julgamos que um corpo perfeito é mais importante que dar a cada acontecimento da vida seu justo valor, medida difícil de ser alcançada na juventude. Julgamos ainda – quão tolos insistimos em ser! – que uma vida feliz é uma vida de fama, muito dinheiro, prazeres e conforto. E vemos multidões de pessoas frustradas apesar de tudo isso terem alcançado. Como diz um sábio oriental, é surpreendente que o homem de hoje vive como se não fosse morrer e depois morre como se não tivesse vivido.
Cada fase da vida tem suas belezas e seus dissabores. Talvez seja tolice, também, considerar uma determinada fase como "melhor idade". Resta-nos, portanto, a sabedoria de viver cada fase, com a intensidade do que nunca mais será vivido e que não deixará melancolia se mirarmos para frente, em busca dos bens que não passam.
16 de novembro de 2010
Tomar ou não tomar vitaminas para envelhecer bem?
Muita gente pensa que para envelhecer bem é preciso tomar algumas “vitaminas”. Outras pensam que “geriatra que é geriatra, deve prescrever alguma vitamina ao paciente idoso”. Muitas vezes ouço de pacientes ou familiares: “Doutora, acho que é preciso alguma vitamina, a senhora não acha?” Afinal, precisamos ou não precisamos tomar vitaminas?
As vitaminas juntamente com outras substâncias que compreendem o que chamamos de “micronutrientes”, são substâncias que o organismo requer para uma série de processos bioquímicos e para a formação de hormônios, fundamentais para o crescimento e para o bom funcionamento de todo o corpo. São chamados de “micronutrientes” porque, ao contrário dos macronutrientes (carboidratos, gorduras, proteínas), formam um grupo muito diversificado cujas necessidades diárias são muito pequenas, embora essenciais.
Esse conceito é importante porque já nos indica que, como são necessários em pequenas quantidades, alguns micronutrientes também podem causar intoxicações se forem consumidos em altas doses.
Há diversos estudos atuais que tentam comprovar os benefícios da utilização de polivitamínicos como complementação alimentar. Não podemos deixar de observar que há interesses comerciais envolvidos e, ainda assim, os resultados são bastantes frustros embora nem sempre sejam apresentados dessa forma aos consumidores. Além disso, é interessante notar, que quando se comparam reposições de micronutrientes em formas artificiais (cápsulas ou em pó, por exemplo) com formas naturais (por meio de uma dieta adequada), a reposição natural é sempre mais efetiva.
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Fraqueza, mal-estar, inapetência, desânimo, perda de memória, cansaço entre outros, fazem parte dos sintomas que levam muitas pessoas a consumir polivitamínicos. Entretanto, essa atitude é um grande risco para a saúde física e mental. Tal quadro deve ser avaliado por um médico de confiança, no caso dos idosos, preferencialmente por um geriatra. Muitas vezes, o que as pessoas julgam poder ser corrigido com “umas vitaminas”, podem, na verdade, ser doenças sérias: depressão, Alzheimer, Parkinson, insuficiência cardíaca, insuficiência pulmonar, insuficiência renal etc.
Para todos que procuram melhor desempenho físico ou mental e por isso desejam tomar vitaminas, o que é realmente recomendável é procurar ter uma vida mais saudável: dormir as horas necessárias e bem, alimentar-se de forma equilibrada, praticar atividade física, não fumar, consumir bebidas alcoólicas com moderação, manter-se bem hidratado e ter metas de vida. Muitas pessoas me pedem uma “receita” para envelhecer bem. Essa é a “receita”: ter uma vida saudável. Não há segredos. É verdade que nosso estilo de vida, especialmente nas grandes cidades, nem sempre propicia as melhores condições para essa vida saudável. Mas eis um bom motivo para buscar ajuda: a consulta médica é também um aconselhamento, uma ajuda personalizada. Não podemos esquecer nunca que a prevenção sempre será o melhor remédio.
Há muita propaganda sobre vitaminas nacionais e estrangeiras com promessas milagrosas de aumento de vitalidade, da capacidade física e mental, e isso é atraente porque é uma forma fácil de conseguir um bom objetivo. Ainda que não seja o que gostaríamos de “ouvir”, não devo deixar de dizer: em geral, tudo aquilo que realmente vale a pena na vida não é tão fácil de alcançar. Isso não quer dizer que não seja simples, mas exige esforço. E esse esforço vale a pena: saúde não se compra, se conquista!
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15 de novembro de 2010
Depressão e envelhecimento: existe uma relação?
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| Vincent Van Gogh - Old Man in Sorrow |
Muitas pessoas se perguntam se envelhecer traz tristeza ou depressão. Aliás, muitas pessoas temem o envelhecimento porque o encaram como uma fase melancólica, só de declínios e perdas. Entretanto, ainda que o envelhecimento físico seja inevitável, o envelhecimento do espírito, depende muito mais de nós mesmos, de como encaramos a vida, do que do tempo cronológico.
Por outro lado, as transformações que o corpo sofre no processo de envelhecimento, podem vir acompanhadas de uma série de desbalanços químicos cerebrais que desencadeiam doenças diversas tais como demências, outros processos degenerativos e também transtornos depressivos.
Muito se tem estudado sobre a depressão, pois é muito comum. Alguns estudos estimam que até 20% da população em algum momento experimentará um episódio depressivo significativo ao longo da vida. As mulheres e os idosos são mais propensos à doença. Além de ser comum, é uma doença mental que costuma ser recorrente e com potencial de causar sérios problemas e limitações para a vida do paciente.
Sabe-se que a depressão não costuma ser um problema com uma única causa. Pode-se ficar deprimido por circunstâncias externas adversas intensas e prolongadas como problemas familiares, luto, desemprego, frustrações, violência, abandono ou por adversidades físicas transitórias ou crônicas, como infarto, acidente vascular cerebral, doenças reumatológicas, câncer etc.
Por todas essas razões, os idosos são mais vulneráveis ao desenvolvimento de quadros depressivos. Por viverem mais, sofrem maior exposição a todas as situações de risco citadas e, além do mais, têm um organismo mais suscetível às alterações cerebrais associadas à depressão.
Ainda que seja comum, a depressão também não pode ser banalizada. É um diagnóstico médico e deve ser avaliada com seriedade. Depressão não é só “estar triste”. Tristeza é um sentimento comum que todos os seres humanos experimentamos. Quando passamos por qualquer situação de perda ou de um desejo não alcançado, é natural sentirmos tristeza. Entretanto, esse sentimento passa a ser patológico, isto é, doentio, quando atinge uma intensidade e/ou um tempo de duração excessivos, ao ponto de comprometer o funcionamento normal da pessoa, ou seja, quando passa a “atrapalha” a vida normal.
No caso dos idosos, a depressão é muitas vezes pouco diagnosticada porque freqüentemente não se apresenta com os evidentes sintomas de perda de prazer pelas atividades antes agradáveis, alterações de sono e apetite e os sentimentos de tristeza marcante. Nos idosos, esses sintomas podem ou não estar presentes, mas vários outros também são encontrados: sentimentos de inutilidade e desesperança; sintomas físicos inexplicáveis apesar de os exames serem normais; lentificação dos movimentos e do raciocínio; apatia, alterações de memória e da concentração; irritabilidade, inquietação, indecisão, baixa auto-estima; cansaço intenso, perda de energia; diminuição do desejo sexual, sentimentos de culpa... Além disso tudo, podem surgir sintomas que beiram os delírios, crenças irreais, idéias de falência sobre si mesmo, o desejo de morte e até atos auto-agressivos elaboração do suicídio.
Nem sempre, diante de quadros depressivos em idosos, é fácil diferenciar uma situação de depressão “pura” do início de um processo de demência, por exemplo, de doença de Alzheimer. No início dessa doença os sintomas tendem a se sobrepor. Nessas situações o acompanhamento por um geriatra pode ser muito importante para orientar a família e propor tratamentos individualizados.
Muito se tem a fazer por um idoso com depressão. O tratamento, que inclui remédios – há diversas classes de medicamentos –, deve abordar também as outras esferas do ser humano: o suporte familiar, a prática regular de atividade física, a participação em grupos sociais e religiosos, o desenvolvimento de aptidões artísticas e manuais e a psicoterapia.
Todos esses aspectos do tratamento têm igual importância. Em relação aos remédios, alguns cuidados devem ser tomados: devem ser sempre prescritos pelo médico e o paciente deve seguir as dosagens propostas, referindo ao médico os efeitos colaterais e sendo persistente porque, em geral, os efeitos benéficos só são sentidos após mais de um mês de tratamento.
A depressão é, portanto, uma doença clínica comum, especialmente na população idosa. Precisamos estar atentos ao fato e não atribuirmos tais sintomas ao envelhecimento normal. Esses aspectos precisam ser abordados nas consultas de rotina e, quando tratados, podem melhorar significativamente a qualidade de vida. Afinal, é verdade que a vida se transforma, mas, como diz a canção, “saudade, sim, tristeza, não”!
14 de novembro de 2010
Doença de Alzheimer
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| Dr. Alois Alzheimer, médico alemão que primeiro descreveu a doença que hoje leva seu nome |
Com o envelhecimento da população, são cada vez mais freqüentes os diagnósticos de doenças neurodegenerativas, isto é, doenças que levam à perda de funções neurológicas por processos destrutivos diversos. Dentre os processos neurodegenerativos mais comuns, encontra-se a doença de Alzheimer.
Com o envelhecimento da população, são cada vez mais freqüentes os diagnósticos de doenças neurodegenerativas, isto é, doenças que levam à perda de funções neurológicas por processos destrutivos diversos. Dentre os processos neurodegenerativos mais comuns, encontra-se a doença de Alzheimer.
A doença de Alzheimer é uma causa (a primeira ou a segunda, na maioria dos estudos) de demência.
Demência é um distúrbio mental irreversível, que atinge geralmente idosos ainda que possa acometer adultos mais raramente. As alterações intelectuais da demência são de intensidade variável e envolvem diversos domínios da capacidade mental: a memória (capacidade de lembrar fatos passados), a linguagem (capacidade de comunicação), as habilidades motoras (coordenação e noção de localização espacial), as emoções (o modo de ser ou “personalidade”), a cognição (capacidade de fazer abstrações e julgamentos, também de fazer cálculos).
A história típica de doença de Alzheimer é a de indivíduos acima dos 60 anos de idade que começam primeiro a apresentar “lapsos” de memória e depois passam a fazer confusões com objetos, com datas, com as finanças, perdem-se em lugares antes conhecidos, mudam seu modo de ser, etc. É uma história lenta e progressiva. É preciso estar atento porque muitas pessoas acham que é normal da idade haver falhas de memória.
É verdade, que mesmo o envelhecimento saudável está associado a um grau de diminuição de velocidade de raciocínio, mas, em situações normais, mesmo os mais idosos, deveriam permanecer com todas as suas capacidades intelectuais preservadas ainda que às vezes um pouco menos ágeis. Isto significa que o normal é envelhecer com boa memória mantendo a própria autonomia.
A doença de Alzheimer ainda não tem cura. Há remédios que podem controlar alguns dos seus sintomas, mas a progressão é inevitável. Do momento do diagnóstico até o final de vida do paciente, podem passar de três a quinze anos, mais ou menos. Em média, esses pacientes vivem cerca de oito anos. O diagnóstico de certeza só seria possível com a realização de biópsia cerebral, o que não é feito na prática. Por isso, ele é geralmente inferido pelas características clínicas dos sinais e sintomas do paciente e pela exclusão de outros diagnósticos, por meio de exames laboratoriais e de imagem.
É importante procurar ajuda especializada quando um idoso começa a ter “falhas” de memória. Pode ser o início de um processo demencial, porém podem ser outras doenças. O importante é não acharmos “normal da idade”. Quando achamos normal, não tomamos providências e podemos deixar de prevenir causas reversíveis de perda de memória. Além do mais, mesmo que o diagnóstico seja de um processo irreversível, o conhecimento do fato é essencial para aprendermos a lidar com a situação.
12 de novembro de 2010
Como otimizar a consulta com o médico geriatra
As primeiras consultas geriátricas, em geral são mais demoradas que o habitual por isso deixo algumas sugestões e dicas para que as consultas médicas sejam mais proveitosas. Horário: programe-se para chegar cerca de 20 minutos antes da sua consulta. Especialmente na primeira vez, talvez você não conheça bem o local, demore para estacionar o carro e ainda precisará preencher uma ficha com a secretária. Não são todos os médicos que atrasam!
Acompanhante: quase sempre é interessante que o paciente vá à consulta acompanhado para que o ajude a se lembrar de algumas questões, a memorizar orientações e tratamentos propostos. Entretanto, o acompanhante deve procurar ser oportuno deixando o paciente se expressar livremente, não respondendo por ele, mas somente ajudando-o quando não se lembrar ou não puder falar por alguma limitação. O ideal é vir com um ou no máximo dois acompanhantes, evitando as “comitivas”. Muitas vezes, será conveniente que em algum momento da consulta o paciente converse às sós com o médico.
Como contar a história médica: procure fazer um resumo em ordem cronológica dos problemas de saúde que tiver (escreva algumas palavras que o ajudem a lembrar na hora da consulta). Ao falar de sintomas novos, conte quando começaram, quando são desencadeados, como são aliviados e como interferem no dia-a-dia. Se há vários sintomas, liste-os, fale o que acha mais importante primeiro e procure ser objetivo ao descrevê-los. Não deixe para o final da consulta nenhuma queixa, porque isso pode mudar todo o raciocínio médico sobre quadro clínico.
Procure lembrar-se também de todos os tratamentos médicos e cirurgias realizados no passado. Mencione os médicos ou especialidades com os quais faz ou fez algum tratamento. Procure pensar nos problemas de saúde de seus familiares mais próximos (pais, irmãos, tios, primos de primeiro grau e filhos). Essas informações serão questionadas pelo médico.
Lembre-se que o médico que lhe atende procurará ser compreensível. Médicos não são seres diferentes dos “comuns dos mortais”, são de “carne e osso”. Não tenha “medo de levar broncas”. Por isso, seja sincero, fale a verdade e não omita informações. O alicerce da relação médico-paciente, que é uma parceria em prol do bem do paciente, é a confiança. Se houver dificuldade para ouvir ou enxergar, avise o médico. Não esqueça de levar os óculos e os aparelhos auditivos.
Não tenha receio de conversar sobre assuntos íntimos, eles integram o bem-estar físico-psíquico-espiritual da condição humana. Se estiver acompanhado, sinalize que deseja conversar em particular. Se for o caso, fale dos sentimentos que o incomodam: tristezas, angústias, estresse, questões sexuais, dificuldades econômicas, preocupações, sinais no corpo que o assustaram (um sangramento, por exemplo, ou uma dor “diferente”, um “caroço” etc).
Tire as suas dúvidas e pergunte com franqueza. O médico deve lhe explicar com linguagem compreensível. Volte a perguntar se continuar não entendendo alguma informação, seja sobre o seu diagnóstico, sobre os exames pedidos ou sobre as medicações e orientações prescritas.
É bastante útil, ao fim da consulta, que o paciente ou o acompanhante faça um resumo das orientações e dos tratamentos propostos para assegurar que nada foi mal compreendido. Em geral, o médico escreve as orientações mais importantes. Se ele não o fizer, faça você as suas anotações.
Medicações: leve anotado todos os nomes e dosagens de todas as medicações que foram utilizadas no último mês e os horários em que são tomadas. É importante não deixar de lado nenhum remédio, incluindo os “caseiros”, “naturais”, “vitaminas”, “calmantes”, colírios, remédios para dor, para tontura, para o intestino, para dormir, ou qualquer outro, mesmo que ache que “não tem muita importância”. Pode ser útil levar as receitas de outros profissionais.
Controles: algumas vezes os médicos pedem alguns controles a serem realizados em casa. Esses controles podem ser medidas de pressão arterial, de glicemia capilar, de temperatura ou podem ser “diários” em que o paciente deve anotar sua alimentação, atividades físicas ou funcionamento do intestino, da bexiga etc. Esclareça bem a forma de fazer esses controles e não esqueça de levá-los na próxima consulta!
Exames: leve todos os exames relacionados ao seu estado atual. Não esqueça dos que foram pedidos na última consulta. Quanto a exames de rotina, leve os últimos de cada tipo (última mamografia, ultrassonografia, ecocardiograma, densitometria óssea etc). Em geral, não é aconselhável jogar fora exames antigos, mesmo se são normais. Eles podem ajudar a verificar a época em que determinada doença surgiu e acompanhar a evolução da mesma. Entretanto, se há vários exames repetidos, guarde, então, os dois últimos.
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11 de novembro de 2010
Senescência, Senilidade e Envelhecimento bem sucedido
Senescência
Sabe-se, pelos atuais conhecimentos científicos, que o avançar do tempo traz alterações no organismo que são notadas quando o comparamos ao desempenho do adulto jovem. Essas alterações, no processo de senescência, são muito discretas, ainda que contínuas, porém não são intensas o suficiente para comprometer a vida do idoso a ponto de ele perder independência e autonomia. Alguns exemplos dessas alterações esperadas são: diminuição do vigor, da força e da rapidez de reações e funções, físicas e mentais.


Senilidade
Já os efeitos ao longo dos anos de doenças mal controladas, levam a desgastes do organismo que vão além do processo natural. Portanto, o diagnóstico precoce e o acompanhamento rigoroso das doenças que por ventura nos acometerem ao longo da vida, é essencial para um envelhecimento saudável. São exemplos de comprometimentos freqüentes que são devidos a processos anormais do envelhecimento: doenças cardíacas decorrente de hipertensão arterial e/ou diabetes, dificuldade motora por causa de artrose, perda de memória devido à doença de Alzheimer, doença pulmonar causada pelo tabagismo etc.
Já os efeitos ao longo dos anos de doenças mal controladas, levam a desgastes do organismo que vão além do processo natural. Portanto, o diagnóstico precoce e o acompanhamento rigoroso das doenças que por ventura nos acometerem ao longo da vida, é essencial para um envelhecimento saudável. São exemplos de comprometimentos freqüentes que são devidos a processos anormais do envelhecimento: doenças cardíacas decorrente de hipertensão arterial e/ou diabetes, dificuldade motora por causa de artrose, perda de memória devido à doença de Alzheimer, doença pulmonar causada pelo tabagismo etc.
Envelhecimento bem sucedido
É verdade que nem todas as doenças são ainda totalmente evitáveis. Mas mesmo assim, muitas doenças dentre as mais comuns, podem ser pelo menos minimizadas. Nesse contexto, a promoção de saúde tem papel fundamental para quem deseja um envelhecimento bem sucedido. Por isso, podemos começar o acompanhamento com o médico geriatra – que também é necessariamente um bom clínico geral – desde cedo, ao redor dos quarenta anos ou antes.
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10 de novembro de 2010
O que é "Geriatria"
Geriatria é a especialidade médica que se dedica ao cuidado da pessoa idosa. Em vistas das mudanças sociais de nossa sociedade, nascem menos crianças e morre-se mais tarde em comparação aos séculos passados da História da Humanidade. Isso significa que cada vez mais, essa especialidade ganhará destaque e esses profissionais serão mais necessários.
Entretanto, o aumento da expectativa de vida, leva-nos, às vezes, a sentimentos contraditórios em relação à vida: não desejamos morrer, tampouco queremos envelhecer.
Ainda que seja uma dura realidade, não é possível evitar por completo o envelhecimento, uma vez que se trata de um processo natural do ciclo de vida de todos os seres vivos. No entanto, cabe aqui, diferenciarmos o envelhecimento normal, tecnicamente chamado de senescência, daquele processo anormal ou patológico, que chamamos de senilidade.
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