18 de novembro de 2010

A velhice é feia?

É verdade que em nenhum outro momento da História da Humanidade a expectativa de vida ao nascer alcançou patamares tão altos. Já somos, nos países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento, sociedades "velhas". Não que os idosos sejam a maioria da população, mas as crianças e os jovens já deixaram de ser o montante mais numeroso... Basta olhar à volta, dar uma espiada na janela da rua: vemos idosos se aventurando por nossos passeios esburacados, vemos cabeças prateadas circulando por todos os lados e vemos as filas ou os assentos "preferenciais" cada vez mais concorridos!
Apesar disso tudo, ainda culturalmente vivemos sob o regime da ditadura da beleza. As rugas se esticam, as cãs se pintam, as manchas se tiram. Não digo que plásticas, cuidados com a aparência e a pele sejam fúteis. É preocupante, entretanto, a não aceitação dos efeitos inexoráveis do tempo.
O tempo tudo modifica: desgasta os motores, enferruja o metal, modifica a natureza, expande o universo e, logicamente, envelhece os tecidos vivos. Não há matéria que não sofra os efeitos do tempo.
Acontece que o envelhecimento nos desconcerta – para alguns conscientemente, para outros no âmago do inconsciente – porque nos depara com uma realidade tão certa quanto tão desconfortável: nossa efemeridade.
    
Tememos a velhice, porque ela nos fala de um ciclo que tem seu ocaso. E nos esquecemos de admirar o crepúsculo, tão deslumbrante quanto o alvorecer. Esquecemos de contemplar o baile das folhas amarelas que caem no outono, tão cheias de beleza quanto o broto primaveril. Esquecemos de considerar que o fruto maduro é o doce termo de uma semente que assim permanecerá frutificando.


Os sinais de envelhecimento, que para muitos representam uma vergonha, deveriam ser, porém, distintivos de méritos.
Tendemos a achar a velhice feia porque pouco contemplamos das belezas imateriais. Valorizamos muito pouco as bonitas conseqüências das experiências bem aproveitadas. Ainda julgamos um rosto liso mais belo que um espírito prudente e sábio. Julgamos que um corpo perfeito é mais importante que dar a cada acontecimento da vida seu justo valor, medida difícil de ser alcançada na juventude. Julgamos ainda – quão tolos insistimos em ser! – que uma vida feliz é uma vida de fama, muito dinheiro, prazeres e conforto. E vemos multidões de pessoas frustradas apesar de tudo isso terem alcançado. Como diz um sábio oriental, é surpreendente que o homem de hoje vive como se não fosse morrer e depois morre como se não tivesse vivido.
Cada fase da vida tem suas belezas e seus dissabores. Talvez seja tolice, também, considerar uma determinada fase como "melhor idade". Resta-nos, portanto, a sabedoria de viver cada fase, com a intensidade do que nunca mais será vivido e que não deixará melancolia se mirarmos para frente, em busca dos bens que não passam.

Um comentário:

  1. gostei muito!
    realmente..a sociedade esta cada vez mais brigada com a velhice..por que a morte é o que mais assusta o homem moderno..

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