15 de setembro de 2015

Como os médicos de antigamente

Recentemente estava examinando um paciente de noventa anos e ele me disse sorridente: “a doutora examina como os médicos de antigamente!”. Fiquei pensativa com o comentário. De fato, sabemos que pelo tempo de consulta que o sistema público e os convênios impõem aos médicos, as consultas muitas vezes são despachos para troca de receitas e solicitação de exames. Muitas vezes o médico mal escuta o que o paciente tem a dizer, mal olha nos seus olhos e mal coloca a mão no paciente.


Por isso costumo dizer que o geriatra particular, é sim aquele médico de cabeceira que muitos desejariam ter. É como “os médicos de antigamente”. Muitas vezes o nosso trabalho é o de gerenciar um grande número de especialistas envolvidos no cuidado do paciente e unificar as informações para a família.


Justamente por esse papel, o geriatra como médico de cabeceira é aquele mais próximo e a quem se pode recorrer para tirar dúvidas diversas sobre os cuidados da saúde, para pedir orientações em caso de sintomas que não estão controlados e para dar retorno em cada situação especial pela qual passar o paciente.


E quando procurar um geriatra? Não há uma idade fixa para isso. Acompanhamos adultos que querem receber uma visão integral de sua saúde, que querem ser vistos como um todo e pessoas maduras que querem envelhecer bem. Acompanhamos idosos saudáveis ou idosos de saúde delicada com múltiplos problemas. E também acompanhamos pessoas em uma das fases mais especiais da vida, o final dela.


Realmente por isso a especialidade nos faz médicos muito presentes na vida e na família dos pacientes. Insisto na ideia de médico de cabeceira porque essa relação de proximidade tem muito a ver com a real vocação da Medicina que não é – ou não deveria ser – a de uma relação comercial. Medicina de verdade significa ciência e arte, significa cuidar. E quem não quer e não precisa ser cuidado?

30 de julho de 2015

O meu médico de confiança

É proverbial a imagem daquele médico de antigamente, que conhecia toda a família, cada um dos seus membros, e que além do mais era, muitas vezes, um bom companheiro e amigo. Vêm-me à cabeça algumas pinturas que retratam muito bem esse quadro. Gosto de duas especialmente:

The Doctor, Samuel Luke Fildes, 1891
Doctor and Doll, Norman Rockwell, 1929

Até o século XX, os conhecimentos médicos eram muito restritos. A mortalidade infantil era muito alta, a expectativa de vida baixa, a natalidade alta e havia poucas possibilidades de tratamentos realmente curativos. Quase tudo era paliativo: chás e xaropes de ervas, compressas, ventosas, sangrias...

Para se ter uma ideia, a anestesia realmente eficiente começou a ser desenvolvida em meados do século XIX, a antissepsia prévia aos procedimentos médicos – como o simples hábito de lavar as mãos! – também começou a ser utilizada na segunda metade do século XIX e o antibiótico só foi descoberto na primeira metade do século XX. E de lá para cá a Medicina mudou muito. Houve uma revolução técnica e científica, o conhecimento cresceu de modo exponencial porque a ciência molecular mudou tudo para sempre.

Hoje, um único profissional não é mais capaz de abarcar todo o conhecimento médico como outrora. E, por outro lado, a necessidade de desenvolver o conhecimento em cada área, levou a uma superespecialização de muitos profissionais. Às vezes brincamos que há médicos especialistas em tratar a unha do dedinho do pé!

A especialização de fato trouxe muitos benefícios. O primeiro deles é a possibilidade de realmente ampliar o nosso conhecimento geral, quando esse conhecimento é somado com todos os outros. Além do mais, como já dito, realmente não é possível que um médico saiba tudo de tudo.
Por outro lado, a superespecialização gerou também uma fragmentação da visão do paciente. Não é raro, especialmente para o médico geriatra, se deparar com situações realmente problemáticas.

Nossos pacientes frequentemente apresentam múltiplos diagnósticos médicos e são acompanhados por diversos especialistas. Em geral, esses médicos não conversam entre si e cada um se detém a examinar e tratar somente o órgão ou sistema de sua especialidade. O indivíduo nessas circunstâncias passa o mês inteiro indo aos médicos, peregrinando de consulta em consulta com o cardio, o pneumo, o reumato, o dermato, o ortopedista, o oftalmo, o gineco, o uro, o neuro, o endocrino, o vascular... Cada profissional acrescenta os seus remédios e não raras vezes o tratamento prescrito por um, interfere no tratamento do outro. E quando o paciente termina de fazer todos os exames pedidos por todos eles, já é hora de recomeçar um novo ciclo de consultas! Uma verdadeira confusão.

O médico geriatra, não é exatamente como o médico de família de antigamente porque nós não cuidamos das mulheres grávidas, nem das crianças da casa. A conformação da família também não é mais a mesma. Atualmente há muito mais adultos e idosos nas famílias do que naqueles tempos. E para esses, adultos e idosos, o geriatra pode, sim, fazer toda a diferença. O geriatra é também um clínico geral e, portanto, está apto para cuidar dos adultos de todas as idades além dos idosos. E um dos papéis mais importantes do geriatra, especialmente para aqueles pacientes com múltiplos problemas de saúde e que necessariamente precisam ser acompanhados por vários especialistas, é o de gerenciar o tratamento, olhando o paciente não como uma somatória de órgãos e sistemas, mas como uma pessoa. Essa é a tal “visão holística”, muito própria da nossa especialidade.

Frequentemente na minha prática profissional, sou procurada com para essa missão: fazer entender o que realmente acontece com o paciente e explicá-lo de modo acessível para a família. Fazemos a ponte entre os diversos médicos e, quase sempre, podemos “limpar a prescrição”: não é incomum que um remédio esteja sendo usado para tratar os efeitos colaterais de outro e que, na realidade, este nem seja estritamente necessário! Por isso, ao contrário do que muitos imaginam, o geriatra não é o médico que vai prescrever “umas vitaminas”. Antes, ao contrário, é o médico que vai tirar o excesso de vitaminas para centralizar o tratamento no que realmente importa, diminuindo também o número de consultas.

Muitas vezes, também estabelecemos com o paciente e com a família uma relação muito próxima, já que os estados delicados de saúde exigem um acompanhamento mais fino e, amiúde, inclusive por meio da visita domiciliar. E assim, é natural que surjam vínculos de confiança que se estendem para aquelas situações em que simplesmente precisamos de uma opinião amiga ou de um médico que venha à nossa casa. Eu noto muito isso: quem não desejaria ter à mão um médico para lhe perguntar tantas questões sobre saúde, próprias e das pessoas da família?

Por isso, aqueles que pensam que a Medicina necessariamente se tornou uma relação fria, ou um negócio mercantil, não sabem que aquele médico companheiro e amigo, para quem sempre se pode recorrer, ainda existe por aí. E a esse, realmente podemos chamar de “o meu médico de confiança”.

Obs: neste texto eu me refiro ao médico geriatra porque é a especialidade com a qual eu tenho experiência. Isso não quer dizer que não haja médicos próximos e companheiros de outras especialidades! 

26 de fevereiro de 2015

Transferência de pacientes



Uma das dependências mais comuns que podem surgir devida a diversas doenças é a dependência para mobilidade. Nessas circunstâncias, o auxílio para a transferência do pacientes, seja da cama para a cadeira, da cadeira para a cama ou mesmo simplesmente para levantar o paciente que não tem forças nas pernas, é crucial para os cuidadores.

Um problema que mais cedo ou mais tarde acaba surgindo, é a lesão da coluna do cuidador, que acaba fazendo esforços excessivos.

Por isso, gostei muito deste post de um blog de fisioterapia:

http://blogfisiobrasil.blogspot.com.br/2015/01/a-arte-da-transferencia.html

Eles explicam como usar as cintas de transferência, que oferecem muito mais segurança para pacientes e cuidadores. Pode ser usado em caso de: pacientes idosos com fraqueza nas pernas ou que têm medo de cair, pacientes com doença de Alzheimer, doença de Parkinson, sequelados por acidente vascular cerebral (AVC) ou por paraplegia ou tetraplegia.